2010/04/28

Pulo do Lobo, Minas S. Domingos, almoço em Serpa e café em Sanlucar do Guadiana - Outra Perspectiva...

Por: Rui Viegas Gago

Outra perspectiva do sábado, dia 24 de Abril de 2010...


Ponto de encontro na já obrigatória Pastelaria Veneza, mesmo no centro da bela cidade de Tavira.

Não eram ainda 9.30 e o grupo já contava com doze pessoas e sete motos prontas para sair e ir ao encontro de mais quatro amigos que nos esperavam mais a sotavento.

Completa a caravana que seguia do sul rumámos em direcção ao Pulo do Lobo. Que saudades de andar de moto com sol... uma manhã fantástica para andar de moto, temperatura amena, luz intensa e as estevas em flor que deixavam um cheiro característico no ar.





Passagem por Mértola sem paragem e continuamos em direcção ao Pulo do Lobo.


E as penduras procuram alguma distracção...






No Pulo do Lobo, mesmo apesar do sol ter aparecido com mais frequência há poucos dias, o calor era já intenso e o spray criado pelo turbilhão de água do Guadiana forçado a entrar numa garganta com uma queda com cerca de vinte metros de altura, era refrescante.








Aqui reunimos com o nosso amigo que veio de Lisboa para passar o dia connosco.





Depois das fotos da praxe e de mais dois dedinhos de conversa, reunimos novamente e agora saímos pelo estradão de terra em direcção ao Pomarão. Por falta de tempo não chegámos mesmo ao Pomarão. Em Santana de Cambas procurámos o atalho para a antiga linha de caminho de ferro das Minas e retomámos o percurso em terra batida.




Interessante a diferença na paisagem que se consegue observar. Em apenas uma semana, a quantidade de água a correr pela pista e pelos riachos junto à linha de caminho de ferro, reduziu-se drasticamente. Ainda temos bastante água nos terrenos e ainda há bastantes pontos com alguma lama mas numa quantidade muito inferior ao que havíamos visto na semana anterior.

Depois de "foto de família" retomámos a estrada em direcção a Serpa onde havíamos reservado o almoço no Restaurante Pedra de Sal.

Bom restaurante, fomos recebidos com simpatia, a comida esta no ponto e o espaço é bastante agradável. Depois das sobremesas seguimos em direcção ao Castelo de onde retomámos viagem em direcção a Espanha.

Já em Espanha, rumámos a Sanlucar do Guadiana para a paragem da tarde com vista para Alcoutim. Interessante a perspectiva que se tem deste típico povoado algarvio, independentemente das construções que despontam agora com escalas e tipologias completamente desenquadradas e desajustadas da estrutura fundiária primitiva que se desmarcam completamente do casario "anónimo" que compõe e enriquece o aglomerado urbano.

É aqui bem visível a riqueza e beleza do aglomerado urbano quando homogéneo e as consequências, em termos de paisagem urbana, de intervenções arquitectónicas e/ou urbanas quando estas não respeitam e não se enquadram no sítio.

Ainda assim é uma paisagem melancólica onde o Rio Guadiana impõe fortemente a sua presença...

2010/04/25

Pulo do Lobo, Minas S. Domingos, Serpa e muitas curvas

Por: Jorge Lami Leal

A RT ao fundo e o Asdrubal em grande plano


Este passeio começou como começam todos os outros, uma ideia, um destino, entre um e o outro, tomou forma tudo o resto.

O itinerário começou a ser cumprido no ponto de encontro inicial, a pastelaria Veneza, em Tavira. Depois do pequeno-almoço tomado, das conversas habituais, fomos até ao segundo ponto de encontro do dia, uns quilómetros mais à frente, recolhendo mais alguns amigos. Em Monte Francisco reencontramos um todo-o-terreno e mais dois amigos, que nos acompanharam também neste passeio, desta vez sem moto. Vieram a fechar o grupo.

Fomos até ao Pulo do Lobo, o último ponto de encontro do dia, onde pouco depois encontrámos um amigo vindo da capital.





O Pulo do Lobo é um local que representa um pouco mais do que a paisagem que o circunda. Tem uma mística própria, as duas margens são portuguesas, muito diferentes, pelo menos naquilo que se consegue ver e sentir. Neste passeio demos preferência à margem esquerda. Para lá chegar, é necessário abrir (e fechar de seguida) um portão de uma herdade agrícola e transpor uma passagem canadiana. Este acesso é de utilização pública. Chegámos ao primeiro dos vários troços de terra batida que fizemos. Uns quilómetros de estradão sempre a descer, por entre barreiras de xisto, serpenteando até ao miradouro sobre o Guadiana e, logo uns metros à frente, com nova descida, até ao miradouro do Pulo do Lobo. Se um lobo outrora pulou sobre esta formação rochosa natural, que encurta o caudal do Guadiana para poucos metros, desde tempos imemoriais, actualmente a distância torna a fábula pouco credível. De resto, estamos perante um fenómeno paisagístico (e geológico) impar, uma garganta que aperta o rio e o transforma em cascata, forçando-o a ganhar uma força tremenda, que cai logo depois para uma bacia, onde se acalma e continua até ao Atlântico.

O caudal está no máximo, devido às chuvas recentes. Por causa da força desta cascata, a água é vaporizada até vários metros de altura e solta-se pelo ar, como se estivéssemos debaixo de um chuveiro com pulverizador. Bastante agradável para quem estava com calor.

As motos:

BMW R1200 GS Adventure

BMW R1200 RT


BMW R1200 GS


Yamaha XT660Z Teneré


BMW R1200 GS


BMW F650 CS


BMW R1200 GS Adventure


BMW R1200 GS Adventure


BMW R1200 GS


Nissan Patrol GR Y61


BMW R1200 RT
















A "lagoa"


A cascata do Pulo do Lobo
















Depois de reunirmos as 17 pessoas, 10 motos e um todo-o-terreno, estávamos prontos para o segundo objectivo do dia: o percurso em terra batida pela antiga linha férrea que ligava as Minas de São Domingos ao cais do Pomarão.



O portão e passagem canadiana (acesso público)


























Há uns anos que falávamos na organização de um passeio por este estradão. Por um ou por outro motivo, fomos participando ou organizando muitos outros, em locais mais distantes ou próximos, mas nunca exactamente por ali.

Para quem não conhece, trata-se de uma das mais antigas linhas-férreas portuguesas (era privada), construída em 1858 e que ligava em tempo idos, por essa via, as Minas de S. Domingos ao cais do porto fluvio-marítimo do Pomarão (eram cerca de 15 km, passando por várias estações e unidades de extracção/ transformação). Esta linha reflecte a importância do escoamento da pirite ali extraída (também produziam enxofre e outros subprodutos), essencialmente para o mercado britânico, utilizando o rio Guadiana para facilitar o transporte. A linha encerrou em 1970, deixando-nos agora este percurso, se bem que as entidades responsáveis já deveriam ter classificado este importante património ou pelo menos melhorado alguns pontos e permitir deste modo a utilização para passeios, em toda a sua extensão (actualmente algumas pontes ruiram, impedindo a passagem até ao Pomarão.

Desde os fenícios que existem referências desta zona (castro do Pomarão), face à posição geoestratégica. Foi com a presença do império romano que a exploração de minério ali começou a ter mais importância, originalmente ouro, cobre e prata. Mas foi com a Manson & Barry que as minas conheceram o seu apogeu e o fim. A importância das minas para o Reino de Portugal foi tal que El-Rei D. Luís e, depois, El-Rei D. Carlos atribuíram, a James Mason, um dos proprietários da empresa, títulos nobiliárquicos, designadamente o de Barão do Pomarão, o de Visconde de Mason de São Domingos e, por último, o de Conde do Pomarão.

Este estradão permite descobrir cores secas, outras fortes, vermelhos aveludados, escuros, ocres, castanhos-escuros e mais escuros ainda. Conhecemos todas estas cores mas assim, vê-las ao vivo, na natureza, salpicadas por todo o lado, desta forma surreal, conheço em poucos lugares. É no Verão, sem a água que corre por todos os barrancos, que este estradão ganha, ainda mais, contornos de paisagem lunar, ou do outro mundo. Começámos em Santana de Cambas e fomos até às Minas. Mais do que palavras… ficam as fotos.

O início, por Santana de Cambas


Uma das várias pontes do percurso





















































O ocre do enxofre

Os vermelhos


Os castanhos, claros e  mais escuros




















Uma ponte em ruínas












O grupo, junto a uma lagoa ácida


Já com pouco tempo para paragens demoradas, tivemos tempo para a primeira foto de grupo e seguimos para Serpa, onde tínhamos as reservas para o almoço, no restaurante Pedra de Sal.











A antiga torre do relógio da Mina






A Igreja das Minas de S. Domingos

Poucos quilómetros mais tarde, entrando na estrada de Vila Verde de Ficalho, entrámos em Serpa.

Pormenor na entrada do Pedra de Sal


O "Pedra de Sal" foi bem recomendado. Comemos muitos bem! Depois das linguiças, dos cogumelos e do resto que nos meteram em cima da mesa, vieram várias peças de porco preto grelhadas, acompanhadas por umas batatas fritas diferentes do normal, migas alentejanas e uma tomatada divinal, apareceu também pela mesa bacalhau e cozido de grão. As sobremesas… enfim… nem seria justo descrevê-las ou colocar fotos. Conventuais e mais não "digo"! A gentileza foi tal que ao pedir informações para chegar a um ponto de Serpa que considero ímpar,  uma torre caida sobre um pano de muralha, o dono do restaurante disponibilizou-se logo para nos levar até lá, para facilitar. Esta é a grande dimensão do Alentejo, as pessoas, o saber receber. Depois do almoço, lá fomos fazer uma volta pelas ruas e ruelas de Serpa, até ao castelo e à "tal" torre caída… as fotos explicam bem melhor o local.





A nora e parte do aqueduto de Serpa


O aqueduto de Serpa


O aqueduto foi uma obra de engenharia inovadora no seu tempo. Este foi construído para levar água de uma grande nora até ao Palácio dos Condes de Ficalho. Passamos pelo palácio e subimos até entrar para dentro das muralhas e, por mais ruelas, parámos as motos no largo da torre do Relógio e da Igreja de Sta. Maria.












Igreja de Sta. Maria


Torre do relógio


A entrada no castelo (com a torre caída)


O grupo à entrada do castelo










Torre caída


Pormenor de um entalhe na entrada do castelo


Outro entalhe

... e outro




A torre caída, vista de baixo






Escadas de Sta. Maria




De Serpa, algumas pessoas seguiram para Lisboa, outras directamente para Sul e o restante grupo (8 motos)  foi por Rosal de la Frontera, por uma estrada daquelas em que o travão praticamente não é utilizado. Fizemos mais uns troços de terra batida, descendo até Puebla de Guzman, atravessando uma das principais manifestações culturais e etnográficas deste povoado: a romaria da Virgen de la Peña. Cavalos, cavaleiros e cavaleiras, todos vestidos a rigor, sevilhanas, ostentando os seus garridos vestidos, de frondosos ganchos altos no cabelo e muitas, mesmo muitas pessoas junto à estrada. Os nossos "cavalos de ferro", bem mais baixos do que os outros que por ali andavam, deram ainda assim nas vistas... 8 motos a abrir passagem por entre uma romaria não passam despercebidas.

A entrada na Andaluzia, por Rosal de la Frontera


Entrada em Rosal de la Frontera









Cavaleiros andaluzes


Uma típica Sevilhana




Mais um estradão



As rodas e as "pás" ao fundo




Dali foi “descer” uma estrada feita de curvas. Curvas para a direita, curvas para a esquerda, até "curvas" para cima e "curvas" para baixo. Parecia uma montanha russa… uma agradável e divertida montanha russa. Quilómetros de divertimento!



Fizemos uma paragem em Sanlúcar de Guadiana. Uns “refrescos”, alguma conversa e… Portugal connosco, que já se fazia tarde. Depósitos atestados pouco antes de chegar à fronteira, para beneficiar da maior justiça fiscal da política energética espanhola e entramos no nosso País, já em pleno lusco-fusco.

Castelo de São Marcos - Sanlúcar de Guadiana, Espanha
















A Ponte Internacional do Guadiana ao fundo




A entrada em Portugal


Foram 11 horas e 468 km daquilo que nos tira o stress do quotidiano: conviver com amigos, boa comida e viajar de moto.