2010/10/06

Até Córdova [4/ 5 Outubro 2010]

Por: Jorge Lami Leal


Saímos bem cedo, ainda a tempo de ver nascer o sol. Levantou-se rápido, mas não suficientemente rápido. Perseguiu-nos ainda por alguns quilómetros, ultrapassou-nos em muitos deles, forçando uma paragem extraordinária, em plena “autovia” (mas em segurança), para colocar óculos escuros. Um tempo depois, já depois de Sevilha, veio um pedido de paragem da pendura, coincidindo com a necessidade de meter gasolina… pouco depois vi uma pequena placa a indicar um posto a 3km. Pelo canto do olho vi umas imponentes muralhas no alto de uma montanha (é já aqui… pensei).


Carmona


Saí da “autovia” em direcção ao tal posto de abastecimento. Depois desta parte tratada, rumámos à vila. Carmona de seu nome, imponente e forte no aspecto das antigas defesas militares, simples nas construções populares, tipicamente andaluzas, que se diluem por trás das muralhas, contrastando o seu branco com a pedra das fortificações. As muralhas erguem-se bem altas, acompanhando a elevação que a sustenta, sobranceiro a uma imensidão de terrenos agrícolas, até perder de vista. Passámos pelas suas ruelas, contornámos depois as muralhas, por fora, em terra batida, e seguimos viagem. Foi uma sorte encontrar e visitar esta vila.




A entrada em Carmona










À volta de Carmona



Um rebanho às portas de Carmona



O nosso objectivo inicial era simples: seguir directos até Córdova, visitar tudo o que fosse possível em dois dias e regressar à noite. Tínhamos as rotas culturais da cidade mais ou menos estudadas e alinhavadas e não tínhamos bem noção do tempo que seria necessário para as percorrer.

Chegámos a Córdova bem cedo e foi fácil encontrar o nosso hotel. A cidade apresentava algum condicionamento na entrada, forçando o GPS a alguma criatividade. Mas assim que percebi onde ficava a “cidade velha”, tudo foi mais fácil. Está bem sinalizada, como seria expectável numa cidade turística. A escolha do hotel foi orientada pela localização. Queríamos estacionar a moto e só voltar a andar no regresso. Que melhor localização que em frente da mesquita – a atracção principal de Córdova?? Facilitou tudo, já que os melhores tascos andaluzes e as restantes atracções estão por ali perto. Até facilitou como base para os nossos passeios pedestres pelas ruas e vielas da cidade.

A escolha do hotel revelou-se logo acertada quando, depois de fazer o check-in e trocar o equipamento de segurança por roupa mais prática, nos preparávamos para sair cidade adentro... fui interpelado pela recepcionista, que me perguntou se em vez de ocupar um lugar de estacionamento na garagem do hotel, não queria colocá-la mais atrás, na zona de serviço, não pagando desta forma os mais de 12€/ dia que custava o estacionamento privado. Claro que acedi. Nunca tal me tinha sido proposto. Normalmente, quando viajo em grupo, até é necessário convencer o recepcionista que num espaço de estacionamento podem caber duas ou por vezes três motos. Fiquei por isso agradavelmente surpreendido com este hotel.

Afinal, dois dias foram mais do que suficientes para conhecer a mesquita, a sinagoga, o alcazar e tantos outros monumentos que justificam plenamente a escolha de Património Mundial da UNESCO. É nosso hábito fazer um passeio naqueles autocarros turísticos “descapotáveis”, aqui o mais parecido que encontrámos foi… um passeio de charrete! Que aconselho, pois em cerca de uma hora, ficámos a conhecer muitos locais interessantes. Por volta das 12h do dia seguinte já tínhamos visitado tudo o que planeáramos. Decidimos por isso iniciar o regresso, mas em vez de seguirmos directos, usamos um caminho alternativo e mais longo.







A Mesquita-Catedral de Córdova:















Um brasão português


O mecanismo do antigo relógio da mesquita





O imponente órgão da mesquita-catedral




Por Córdova:

A sempre presente influência de “além-mar”
















O Alcazar dos Reis




Um dos milhares de recantos de Córdova








Uma instalação de arte no topo de um edifício








Um imponente pátio andaluz



















No centro (moderno) da cidade



Córdova by Night







Jardins do Alcazar









Sinagoga


Tínhamos passado em Écija na ida e ficámos curiosos com esta cidade barroca. Uma das terras que tinha na minha “cábula” de locais a visitar era Setenil de las Bodegas. Unimos estes pontos no receptor de GPS e seguimos para lá.

Em Écija visitámos apenas o centro histórico, seguindo depois para Setenil. A estrada até lá é muito interessante. Trata-se de uma estrada nacional, ladeada por terrenos agrícolas e onde se percebe porque motivo o país vizinho se desenvolveu desde a década de 70, sem parar. Tudo plantado, pastoreado ou lavrado à espera de ser utilizado. Milhões de hectares de agricultura, mecanizada, mas sobretudo industrializada, como se percebe ao passarmos por dezenas de unidades de processamento/ extracção de azeite.


Écija








Ainda passámos algumas pequenas localidades até chegarmos finalmente a Setenil… o relevo altera-se a poucas dezenas de quilómetros. Ao entrarmos na vila, ficámos surpreendidos perante esta ocupação do Homem, que se adaptou ao relevo e às restantes condições naturais. Nada melhor que espreitar as fotos. Já era tarde e tratámos de almoçar. Se em Córdova comemos bem, íamos com tapas em mente, mas acabámos por optar por uma restauração diferente e típica. Infelizmente o rabo de touro tinha acabado, mas os pimentos recheados de marisco e molho bechamel para mim e os camarões enrolados em fio de batata e fritos que a minha pendura escolheu (e que também provei), estavam uma verdadeira delícia. Vale a pena lá ir apenas para almoçar e andar de moto! Afinal, só fica a 300 e poucos km de casa!!


Ao longo do percurso até Setenil de las Bodegas:







Setenil de las Bodegas












Depois do almoço, demos uma volta completa à terra. À saída de Setenil, perguntei a um local a melhor forma de ir para Sevilha. Disse-me que fosse por uma determinada estrada, e que seguisse em frente mesmo que estivesse cortada, pois de moto dava para passar. Estava de facto cortada. Apesar de ter muito bom piso (e paisagens) tinha desmoronado nuns pontos e rachado noutros. Mas deu perfeitamente para passar, a uma velocidade que permitisse travar a tempo de não entrar num buraco!

Regressámos então até Sevilha e, já em “autovia”, até casa.
Ficam mais umas fotos desta aventura andaluza:




Um dos “buracos” na estrada








(ao fundo) um enorme rebanho








Um ícone da Andaluzia


Adeus e até à próxima...