2010/03/28

Curso TT MotoXplorers - Herdade do Monte Redondo

Por: Rui Viegas Gago

Há muito que as BMW R1200GS Adventure nos deixavam uma sensação estranha nas viagens que temos tido oportunidade de fazer. Independentemente do conforto, fiabilidade e prazer de condução que se consegue retirar destas motos maxi-trail, mesmo quando exclusivamente usadas em trajectos de alcatrão, aquela imagem robusta de máquina que nos consegue levar ao fim do mundo… e trazer de lá inteiros… deixavam-nos uma estranha sensação de vazio ao fazer estes trajectos.

E a terra!!! Quando pisamos terra!!!???

Este sentimento levou-nos à procura de algo mais e com este objectivo descobrimos o “Curso de Condução TT da MotoXplorers”.

Assim, sexta-feira à tarde rumámos em direcção a Alter do Chão, mais precisamente à Herdade do Monte Redondo. Oito amigos, cinco motos, das quais três R1200GS Adventure, uma R1200GS e uma Yamaha Tenere 660 iniciaram viagem pelo interior de Portugal, entre Tavira e Alter do Chão com passagens em Mértola, Beja, na bela aldeia de Santa Suzana, Redondo, a obrigatória passagem nas curvas da Serra d’Ossa, Estremoz, Sousel, Fronteira e Alter do Chão.

Era quase noite quando chegámos ao desvio para a Herdade do Monte Redondo. Primeiro contacto com o piso de terra. Cerca de quatro quilómetros de estrada de terra batida em excelentes condições mas, ainda assim, a abordagem a este novo piso não dava muita confiança.

A meteorologia também não dava garantias já que os chuviscos eram frequentes deixando as condições de aderência do piso muito duvidosas.


Chegados à Herdade, primeiros contactos feitos com os nossos anfitriões, e era hora de jantar. Jantar este, que a sugestão do nosso anfitrião Gonçalo Faro, foi no restaurante o Candeeirinho na povoação de Seda. Uma boa refeição de plumas de porco preto, migas de espargos, migas de batata, sobremesas e doces conventuais e degustando uns belos vinhos alentejanos e era hora de regressar à Herdade para repousar antes do início do curso que iria começar no sábado pelas dez horas.

Pela manhã, os chuviscos continuavam e após o pequeno-almoço era hora de começar o curso. Os restantes participantes fizeram a sua chegada já pela manhã bem como os nossos instrutores e lá foi começando o curso com a sua primeira abordagem teórica. Após o briefing era hora de preparar as máquinas para o que as havia de esperar.

Afinações e desmontagens que vão desde retirar faróis suplementares, espelhos e outros apêndices supérfulos para a utilização offroad às afinações da posição de condução com regulação dos guiadores e patins e estávamos prontos para iniciar a vertente prática do curso.

A pressão dos pneus para situações de estrada deu lugar a pressões mais indicadas para pisos de terra.

As ajudas electrónicas tais como controlos de tracção e ABS foram igualmente desligados de modo a permitir aos pilotos o controlo completo da máquina, pelo menos em teoria…

Primeiro contacto com o piso e tudo era novo, desde a posição de condução ao comportamento da moto naquelas condições de aderência e lá descemos da herdade até ao terreno de práticas. Os exercícios sucederam-se e experimentamos coisas como levantar a moto do chão sem esforço, relativo pois claro, que levantar 250 quilos sem esforço não são para qualquer um, exercícios de “circo”, condução em terreno com pouca aderência só com uma mão, só com um pé, tipo amazona, pé direito no patim esquerdo e vice versa foram só alguns dos exercícios de familiarização dos pilotos com as maquinas e era hora de fazer uma primeira incursão em situação de todo o terreno real.


Após o almoço continuaram os exercícios e situações como condução em pisos com inclinações laterais, domínio da moto em exercícios a baixa velocidade e mais situações de todo o terreno real com passagens em lama, passagens a vau e subidas e descidas com controlo de velocidade.


Após exercícios de travagem, à frente e atrás, a noite caía e era hora de deixar o campo e as pistas e voltar à herdade para o merecido descanso já que os corpos começavam já a acusar o desgaste de um dia fisicamente muito intenso.



Após bastantes quedas, mais das motos que dos pilotos, mas de um sentimento de dever cumprido era hora de descansar para o segundo dia que se previa igualmente duro. O domingo começou igualmente pelas 10.00 horas mas antes já tinha dado para perceber que as condições climatéricas tinham piorado bastante durante a noite e as terras estavam ainda mais ensopadas. A chuva durante a noite tinha tornado as condições de aderência ainda mais precárias e logo no inicio foi bem sentida a falta de pneus cardados. O Continental ContiTrail Attack traseiro quase liso mostrava agora todas as suas fragilidades e a primeira ida ao chão do dia não se fez esperar… desta vez mesmo sem exercícios para realizar… Apenas manter a moto em pé era já um desafio!

Ainda assim, após as primeiras quedas do dia retomámos o curso e o regresso aos exercícios. A abordagem às valas foi o primeiro exercício ao que se seguiu a passagem de obstáculos a velocidades reduzidas e a assustadora recuperação das motos em subidas. Esta parecia talvez a tarefa mais impossível de realizar e contudo, com as dicas certas das pessoas certas, foi possível de realizar sem nenhum precalço.


Após todo este conhecimento… estava, na opinião dos instrutores, na hora da prova final…

Era hora do passeio todo o terreno onde teríamos de colocar em pratica todos os conhecimentos que nos tinham sido transmitidos há apenas 36 horas…

Primeira abordagem… descida de um corta fogo com inclinação muito razoável, ou pelo menos muito para além do que alguma vez pensámos fazer!!! Controlo de velocidade com o motor, travão de mão e pé e estava feito… Um sentimento de alívio em conjunto com uma dose massiva de adrenalina!!! A partir daí por montes e vales, por caminhos, por trilhos e veredas subidas de piso solto, descidas íngremes, passagens a vau, valas de lama subidas de pedra, troços rápidos com travagem e derrapagens controladas e a subida final à “pedra” de final de curso. Uma subida mais digna de uma prova de trial que de um curso TT para maxi-trails… que foi exemplarmente feita pelos alunos.

Foto de André Espenica


Foto de André Espenica

No grupo, quedas foram poucas, mais frequentes foram as motos cair que nós cair com as motos. Avarias, acidentes ou incidentes não aconteceram e o balanço foi largamente positivo.

Em suma, foi um fim de semana exemplar onde a equipa da MotoXplorers, nas pessoas do Carlos Azevedo, Carlos Martins e André Espenica, nos proporcionaram, para além de uns dias descontraídos entre amigos enriquecer a nossa experiência de condução e abordar a partir de agora os "piores" caminhos com uma dose de confiança que antes era impensável.



A estes um especial agradecimento não só pelo profissionalismo com que abordaram o projecto mas também pela descontracção e simpatia que transmitem aos alunos. Uma nota de agradecimento também aos nossos anfitriões da Herdade do Monte Redondo, Gonçalo Faro e Marta pela sua simpatia e atenção a todos os detalhes.




No regresso, o percurso de 4 kms de terra entre a estrada alcatroada e a herdade, parecia outro...

as deslizadelas que antes não davam mais que receio deram lugar ao prazer...

a travagem deu lugar à derrapagem...

a falta de tracção que antes era um problema passou a ser uma obsessão...


A partir de agora seguimos sempre por "maus caminhos"...


5 comentários:

Anónimo disse...

Grande experiência...nada como andar por "maus caminhos" com bons amigos...

Um abraço,

Pedro Bastos

Jorge Lami Leal disse...

Que belo fim-de-semana tiveram! Não te esqueças de lavar a moto!!! :-p

Rui V. Gago disse...

É verdade Pedro, foi uma experiência inesquecível, tanto pelo curso como pelo tempo que conseguimos passar com as pessoas que nos rodeiam.
Muito Bom. Recomendo vivamente!!!

Anónimo disse...

Olá, Rui!

Que boa descrição fizeste das peripécias do curso. Depois do que li, também penso vir a fazê-lo.

Abraço
Zé Mendes

Rui V. Gago disse...

Olá Zé,
Como disse já anteriormente, recomendo! É de facto uma experiência muito gira mesmo para quem não tiver pretensões a sair de estrada com muita frequência. O saber não ocupa lugar e durante dois dias aprendes muita coisa...
Abraço