Depois do pequeno-almoço no “sítio do costume”, com uns amigos que vieram dos lados da Foz do Arelho para a afamada fatia dourada, lá nos fizemos à estrada, já no final da manhã. A ideia era seguir sem destino, evitando as estradas mais conhecidas. Simples e “descomplicado”
Começamos por subir em direcção à serra… lá ao longe, erguendo-se sobranceiro ao Algarve litoral, protegendo-o, revelou-se casualmente um excelente objectivo intermédio – o Cerro de S. Miguel –, um pequeno treino, muito, muito pequeno, para o projecto em projecto de uma viagem aos Alpes, até ao tortuoso (e acredito que inigualável) Passo dello Stelvio.
Ao subir para o barrocal, as habitações mostram vida, afazeres de casa, famílias que por escolha ou destino, elegem o sopé do “monte” para São Brás de Alportel como residência, com todas as vantagens e desvantagens, mas sempre com genuinidade!
Cedo percebi que os muros de pedra seriam o mote deste passeio. São uma das características deste relevo, resquícios quer da divisão das propriedades, traduzindo a respectiva posse, quer do aproveitamento dos declives, rentabilizando desta forma a pouca terra que, em tempos idos, estava à disposição para alimentar as famílias que por aqui habitavam. O minifúndio é claramente preponderante, contribuindo muito provavelmente para o declínio de muitas famílias rurais, forçadas a descer às cidades para um novo sustento.
Esses muros de pedra levaram-nos por estradas municipais com o piso deteriorado, assim como por alguns pequenos estradões de terra. A paisagem muda pouco. Árvores de fruto, com destaque para as laranjeiras, oliveiras, amendoeiras e alfarrobeiras. Hortas e vinhas aqui e ali. Se aparentemente semelhantes, são os pequenos nadas que diferenciam a paisagem, ao ser cruzada de moto.
As amendoeiras estão em flor, algumas tapam os ramos de um branco como neve, outras, com um toque de rosa, cortando o verde e o castanho, preponderantes na paisagem.
Quase a chegar a Moncarapacho, viramos em direcção ao Cerro de São Miguel, também conhecido por Monte Figo (ou o mitológico Monte Zéfiro??). Este monte foi, em tempos idos, um importante ponto de referência para navegadores vindos do Mediterrâneo. Desde tempos imemoriais que os fenícios (séc. VIII a.C.), gregos e romanos por lá passaram e deixaram a sua marca. Para além do Infante da nossa Epopeia Marítima, que dizem ter baptizado este monte com o nome do seu Santo preferido.
Estes 411 metros de altitude sustentam actualmente uma enorme central de telecomunicações. Foi pena o céu encoberto, já que dali avistamos muito Algarve e muito mar. As fotos ficaram por isso condicionadas ao dia cinzento e sem luz, ao pouco brilho disponível. E assim foi até ao fim.
Ao descer, para evitar repetir a longa e sinuosa estrada, até para mudar de "ares", descemos pela encosta Norte. Com um piso melhor, menos curvas... lá fizemos a descida calmamente.
O encontro com alguns cães é uma característica repetida nestes passeios que tenho feito só a uma moto. Até agora, sempre afáveis. Desta vez foi um autêntico “golfinho do campo” que, assim que nos viu passar, deixou os outros cães com quem estava e correu à frente, sempre divertido e brincalhão. Reduzi a velocidade, para aproveitar este momento tão especial. A cada poucos metros, olhava para trás, para mim, como que a dizer, vem daí! E fui… ora mais à direita, ora mais à esquerda, foi correndo até que se cansou… despediu-se de mim e seguimos.
Uma das minhas aldeias preferidas (no Algarve) é Estoi. Por esse motivo, as estradas secundárias levaram-me até lá.
Esta aldeia tem algumas características muito especiais. É constituída sobretudo por habitações do início do século passado, pelo menos na parte antiga, com um cunho burguês, não tivesse sido um importante centro rural. Tem ali perto um dos mais importantes achados romanos do Algarve, que a seu tempo será tema de um passeio, mas é no ambiente bucólico, enquadrado num bem preservado/ recuperado centro histórico, que se ergue o imponente Palácio de Estoi.
A construção original deste edifício data do século XVIII. Pertenceu originalmente a uma família nobre local. Depois das invasões francesas e de algumas peripécias, o imóvel acaba por ser adquirido por um abastado boticário em Beja e proprietário rural, natural de Estoi que, devido ao seu esforço e verbas investidas na revitalização do palácio, foi agraciado, por El-Rei D. Carlos, com o título de Visconde de Estoi. Esta pequena quinta é um conjunto arquitectónico sublime e singular: um palácio ao estilo rococó, com jardins românticos (agora – finalmente – em fase de recuperação). É considerada por muitos como a Versailles algarvia.
Adquirido em estado de abandono pela Câmara Municipal de Faro, manteve-se igualmente abandonado por muitas décadas, por incúria das sucessivas vereações, por falta de visão, recursos financeiros ou apenas de respeito para com o passado e o que o engrandece. Esta parecia ser a sua sina desde que foi construído – ser sucessivamente abandonado por todos os seus proprietários. Felizmente que ao ser incluída na rede das Pousadas de Portugal, inverteu-se esta “sorte”. Ainda bem!
Palácio visto! Continuamos pelas ruelas de Estoi.
Com Estoi para trás, passamos Milreu.
Continuamos esta viagem errante. Uns cruzamentos à frente, a pergunta fulcral: “já há fome?” – não havia, pelo que seguimos até Santa Bárbara de Nexe, dali para Norte e depois para Loulé. Saímos por uma das “portas” rurais da cidade, passando o Convento de Santo António dos Capuchos, em direcção a Boliqueime.
Pouco antes de Boliqueime, nova paragem. Já eram horas de pensar em comer! Como estávamos ali tão perto do nosso restaurante “oficial”, lá seguimos até Albufeira. Ao chegar, percebemos que nos tínhamos desencontrado ao pequeno-almoço com o proprietário – e nosso companheiro de estrada – e ele connosco, ao almoço. Quando chegou, tínhamos acabado de tomar os cafés, mas fomos ficando à conversa até ao final da refeição dele. Já passava pouco das 16 horas quando nos fizemos à estrada, para encontrar finalmente o conforto dos sofás… de onde agora escrevo!
Mais um fim-de-semana que acaba, mais um passeio que chega ao fim. Mais um projecto de passeio que começa a tomar forma.
Para a semana vamos até Ronda, por isso: até lá!!!
6 comentários:
Vamos Vamos!!!
E é já no sábado...
Beep beep! LoL
Belo passeio Jorge!
Em Abril, voltarei a andar de moto, até lá, passeio aqui ;-)
Sérgio Afonso
Olá Sérgio!
És sempre bem-vindo, aqui, na estrada... e um dia destes, quem sabe, por uns caminhos de terra, com 4 rodas!!
... já me constou que “despachaste” outra vez o “ferro”!! Vamos ver se à terceira é de vez!!! :-D
Abraço!
Bela voltinha ...!
Fiz uma pausa a meio da tarde, "espreitei" por novidades dos errantes e havia...
Belo passeio por esse algarve que continuo a descobrir pelas tuas (vossas) crónicas...
Pedro Bastos
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