Por: Rui Viegas Gago
Dos primeiros dois dias ficam para reter as fantásticas viagens Tavira-Ronda e Ronda-Gibraltar, e a simpatia dos Macacos de Gibraltar que se mostraram extremamemente amistosos ao contrário dos relatos que havíamos ouvido.
Quem sabe se não será a má formação e conduta incorrecta das pessoas que dão a má fama a estes simpáticos bichos.
Depois de regressar a La Linea de la Concepcion, novamente em território espanhol, uns rumaram a casa por entre chuva e vento, os outros rumaram a Ronda por entre as estradas secundárias da Serra Rondeña. A noite e a chuva dificultaram um pouco a viagem mas mesmo de noite os povoados da serra têm uma beleza indescritível.
Já em Ronda o jantar foi no local recomendado por alguns que já conheciam, "Restaurante Pedro Romero". Simplesmente divinal!
Dia 3 - Visita aos Pueblos Blancos
A planificação feita para este terceiro dia ficou parcialmente comprometida devido à meteorologia. Durante o pequeno almoço deu logo para perceber que a chuva não ia dar tréguas e que não iria ser possível fazer os quilómetros que estavam pensados para visitar alguns dos "Pueblos Blancos". Ainda assim a vontade de sair, conhecer novos locais e passar por novas experiências não esmoreceu, equipá-mo-nos a rigor e saímos para a chuva.
Rumámos a "Setenil de Las Bodegas" para conhecer aquela povoação onde as casas (ou pelo menos algumas delas) são constituídas apenas pelas fachadas, tudo o resto é rocha.
Representam ainda o mais básico e pré-histórico conceito de habitar onde o meio ambiente dá origem à necessidade sem acessórios ou pormenores supérfulos. As reentrâncias dão abrigo e apenas as fachadas têm a mão humana, tudo o resto é construído pela natureza. Reentrâncias e saliências caracterizam esta povoação de "habitações trogloditas" ou "habitações sob rochas" que se desenvolve ao longo de um vale que abre passagem ao Rio Guadalporcum.
A riqueza arquitectónica deste povoado vai ainda para além das casas sob as rochas. A estas podemos juntar monumentos como "El Castillo" cuja data de construção remonta aos séculos XII -XIII, que se situa, obviamente, na parte mais elevada do povoado e que ainda conserva a torre de menagem e uma cisterna; ou como a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Encarnação de estilo tardo gótico.
A chuva não dava tréguas e continuava a cair copiosamente, o rio aumentava o seu caudal minuto a minuto e era perfeitamente perceptível esse aumento. As ruas mais pareciam pequenos riachos que alimentavam o rio e depois da visita à vila e de um café na esplanada sob as rochas era tempo de regressar às motos e continuar o nosso trajecto.
De Setenil de Las Bodegas rumamos em direcção a Ardales e de aí às gargantas "El Chorro". O percurso até lá chegar é magnífico ladeando a Barragem do Conde de Guadalhorce. Quando nos afastamos deste, surge a estrada recortada por entre as rochas com declives acentuados e curvas e mais curvas, umas fechadas e outras muito fechadas. A chuva continuava sem parar e começamos a encontrar pedras e lama nas estradas derivadas de derrocadas e deslizamentos de terras das encostas que começavam a ser cada vez mais frequentes.
Depois de bastantes quilómetros com atenção redobrada na condução, eis que a recompensa surge no horizonte. Chegámos a "El Chorro" e o que nos chama imediatamente a atenção é o "Caminito del Rey" que aparece cravado nas paredes rochosas das gargantas. Com uma largura média inferior a um metro e uma altura ao plano de água que varia entre os 150 e os 200 metros de altura, a construção deste percurso foi inicado em 1901 e serviu para os trabalhadores das quedas de água de "El Chorro" e "Gaitanejo" transportarem os materiais para manutenção do canal e fazer vigilância ao mesmo. A sua construção terminou em 1905. Em 1921 o Rei Afonso XIII teve de atravessar a passagem para inaugurar a Barragem de Guadalhorce e vem daí o nome, "Caminito del Rey". Actualmente o percurso está fechado devido aos sucessivos acidentes mortais que tiveram lá lugar.
As gargantas "El Chorro" são um local deslumbrante. Com uma escala imensa, as paredes rochosas fazem tudo parecer minúsculo sendo que a pontuar esta maravilha natural está a ponte que liga as duas paredes e o "Caminito del Rey" que marcam a presença humana naquele cenário natural.
Era tempo para mais uma breve paragem que afinal não foi assim tão breve. Um pequeno café/restaurante isolado naquele local acabou por ser o espaço acolhedor com uma salamandra a aquecer o ambiente que procurávamos para secar as roupas que não resistiram às chuvas e para aquecer o estômago. A ementa consistiu em solomillos de ternera e nas chuletas de cordero que pelos comentários feitos, estavam deliciosos.
Após a paragem retemperadora, voltámos às motos e à chuva e marcámos o regresso a Ronda de modo a conseguir chegar lá ainda com luz do dia para visitar a cidade.
Mais uma viagem sempre sob chuva e lá chegámos a Ronda. Depois de uma paragem no hotel para mudar de indumentária, das motos arrumadas na garagem, lá seguimos a pé por Ronda para sentir um pouco mais da beleza desta cidade andaluza.
Dia 4 - Regresso a casa
O dia nem sequer começou muito cedo. A distância a percorrer não era muita, os cerca de 400 quilómetros até ao Algarve são apenas um aperitivo pelo que não havia necessidade de madrugar.
Depois de carregadas as motos e equipados a rigor largámos Ronda, não com um adeus mas com um até já, porque a beleza daquela cidade e de todos os locais da região justificam mais algum regresso. A chuva não caía naquele momento mas era claro que iria cair a qualquer momento o que se verificou logo cerca de 30 quilómetros após a saída.
O piso molhado e a chuva impediram que o regresso fosse feito pelo vale da Serra de Grazalema pelo que rumámos a casa pela estrada mais "convencional", o que não é hábito! Mais algumas derrocadas nas encostas junto à estrada "animaram" o regresso e o vento lateral forte fez com que os 60 quilómetros até chegar a Sevilha fossem um autêntico desafio para manter a moto na estrada. O vento forte e as rajadas são um dos maiores inimigos dos motociclistas, o que em conjunto com a chuva e o piso escorregadio tornaram este regresso numa verdadeira luta contra os elementos...
Na chegada ao Algarve, e porque os companheiros de viagem ainda seguiriam para Lisboa, era preciso fazer uma paragem técnica para almoçar o que fizemos no "Restaurante O Alcatruz - Tá o petisco em monte" em Santa Luzia. Restaurante tradicional onde se pode degustar entre outras iguarias, salada de ovas de choco, salada de polvo, estopeta de atum, ameijoa boa, ostras ao vapor, enguias fritas, carapauzinhos fritos e para terminar arroz de marisco e o já habitual arroz de lingueirão.
O café e as sobremesas foram, a convite dos incansáveis amigos Rogério e Lina, já em Tavira na Pastelaria Veneza, junto à Câmara Municipal, onde se puderam degustar os tradicionais "Folhados de Tavira" entre outros doces regionais. Assim terminou mais uma viagem, no mesmo local onde havia começado quatro dias antes e onde já se é mais que um hábito ser bem recebido. A Pastelaria Veneza é cada vez mais o ponto de partida e chegada oficial destes e de outros errantes.
E um obrigado muito especial ao grupo, por estes agradáveis quatro dias!! Por um Dia de S. Valentim e um Dia de Carnaval para mais tarde relembrar!
1 comentário:
Carissimos Amigos do XUL, finalmente consegui ler, com calma, o que por aqui se escreveu sobre este passeio e deixem-me dizer... foi isto tudo e ainda mais... :o)
Está espectacular!
Enviar um comentário