Arranquei rumo ao barrocal, sem nada na cabeça que não o objectivo de percorrer uns agradáveis quilómetros sem preocupações, trânsito e outras complicações. Vi pequenas capelas, ruínas, casas antigas bem preservadas, outras em muito mau estado, algumas descaracterizadas, outras que pareciam não ter sofrido a influência dos anos, mas pelo percurso não pude deixar de reflectir que o barrocal (assim como a serra algarvia) distam muito mais do litoral do que os poucos quilómetros que os separam. Não são apenas os minutos ou a distância, mas a forma de estar e de receber que é outra.
Fui pelo Prego, Luz de Tavira e a seguir Santo Estêvão, por entre alfarrobeiras. Por estradas muradas de pedra cheguei a Estiramanténs. Este característico povoado, na freguesia de Santo Estêvão – Tavira, é um museu vivo da arquitectura algarvia do século passado. Ao entrar nesta terra, para fotografar algumas fachadas, fui logo calorosamente cumprimentado por um grupo de senhoras, que conversavam à beira da estrada, ainda que chovesse ligeiramente. Como se isso impedisse o saudável convívio entre vizinhas! São estes pequenos nadas que me levam a preferir o interior para este tipo de passeios.
Segui novamente até à Luz de Tavira (enfim, por engano meu) e dali para a Torre d’Aires. Esta antiga defesa de costa resistiu aos séculos, ainda que tenha beneficiado de algum investimento e arranjo recente, pouco deixa perceber o que foi e a importância que teve na defesa destas populações, especialmente das que viviam mais perto desta costa.
Segui depois até ao Fundo, sempre acompanhado por características chaminés algarvias e as singulares plantibandas, bem garridas, destacando-se das casas singelamente caiadas de branco. Quando me cruzo com elas de moto, não deixo de pensar que antigamente construíam-se casas com arte e primor, com carinho.
Parei para mais umas fotos, bem perto de um forno que, pelo cheiro, cozia pão. Não quis abusar da hospitalidade…
Com a chuva sempre a cair, não estavam disponíveis os aromas habituais que a vegetação solta ao longo do trajecto, mas isso apenas despertou mais os restantes sentidos. Ainda me cruzei com alguns cães de grande porte, que normalmente assustam qualquer motociclista, face ao possível perigo, mas aqui, até os cães são simpáticos e mais interessados em nos perceber e conhecer, que atacar.
A moto entrou, pouco depois, nos 9.800 km. Quase todos cravados na minha memória… até aqueles que já esqueci lá ficam, contribuindo para as experiências de que usufruo a viajar e passear de moto.
Depois segui directo até à Ilha de Faro, ponto de encontro – aos domingos de manhã – de um grupo de motociclistas desassossegados.