2010/11/25

Fui ao Stelvio Pass mas já voltei...

Por: Rui Viegas Gago

É um daqueles locais míticos! Itália, em plenos Alpes. É a estrada pavimentada mais alta da Europa com o seu cume aos 2757m de altitude.
Faz as delícias de motociclistas e de... ciclistas!


A subida norte tem 48 curvas em gancho, dizem... porque eu não as consegui contar... que obrigam a toda a perícia e empenho dos condutores.

Depois de alguns quilómetros desde Trento, chegamos ao vale entre situado entre Bolzano e Merano, desde Merano começamos a lenta ascenção ao cume. A estrada é boa e entre curvas suaves e tuneis lá vamos subindo em direcção ao Passo dello Stelvio, após cerca de 50kms encontramos um desvio à esquerda que assinala "Stelvio Pass/Stilfser Joch", com um sorriso e a sensação de estar quase lá, lá continuamos curva após curva. As breves rectas e os túneis que até agora tinham pontuado o nosso trajecto dão lugar a uma louca sucessão de curvas e contracurvas, ganchos mais ou menos apertados e a estrada cada vez mais estreita lá se embrenha mais na montanha. A subida é cada vez mais íngreme e continuamos a nossa escalada pelo alcatrão. A temperatura vai ficando mais amena e agradável para quem circula de moto com os respectivos fatos. Já levamos cerca de 15kms desde o desvio e eis que, após uma outra sucessão de curvas abre-se uma curta recta com uma ligeira curva à direita a contornar a montanha e...
É de cortar a respiração... temos em nossa frente os 15kms finais!





Um quadro! Um postal! Uma fotografia para recordar!

Uma sucessão quase interminável de curvas em direcção ao céu, ganchos completamente fechados numa escalada vertiginosa pela encosta, e por vezes fora dela, com enrocamentos para suportar a estrada que nos leva ao cume!



Fantástica é a diferença de sensações provocadas pela estrada quando vistas de dois ângulos diferentes...
De cima é calma, transpira silêncio e parece que está em completa em harmonia com a montanha, sente-se o silêncio da natureza e a neve no cume empresta-lhe aquele encanto!
Já quando vista de baixo, a sensação é bem diferente!!! A pendente forçada, as curvas balançadas fora do declive, o murete de pedra que nos acompanha! Faz-nos sentir um aperto no peito e duvidar se queremos mesmo ir ao topo! Claro que queremos... A adrenalina corre desenfreada e turva a vista, uma curva de cada vez... impossível fazê-las em simultâneo com qualquer outro veículo circulando em sentido contrário, as direitas são feitas em primeira já as esquerdas, feitas por fora, podem ser em segunda caso se atrevam. As motos completamente carregadas, mais de 450kgs por conjunto, malas, sacos, penduras, não deixam lugar para grandes "avarias" e lá continuamos a nossa lenta ascensão!
Os últimos quilómetros feitos a médias a rondar os 30km/h e alongam a subida no tempo! Estes ganchos finais demoram cerca de meia hora a fazer retardando a chegada ao cume!






Chegámos! Última curva, breve recta e estamos no cume!
A 2757 metros de altitude no mítico Passo Stelvio, Passo dello Stelvio, Stelvio Pass ou Stilfser Joch, como lhe prefiram chamar!
Há uma multidão no cume. Motociclistas, ciclistas e alguns automobilistas sendo que os rostos dos primeiros dois demonstram muito mais satisfação! 
Os outros, os enlatados, não conseguem sentir tudo tal como os "motorizados" também não conseguem sentir o que é chegar ao cume só à força de pernas... Loucos estes ciclistas!
No cume, uns restaurantes, cafés, lojas de "recuerdos" e pegatinas, autocollant, stickers, adesivi, aufkleber fazem as delícias dos visitantes...
O cheiro dos cachorros abre o apetite...
A panorâmica é indescritível, de cortar a respiração, a beleza natural é avassaladora!






Não sei se volto lá, mas também... para quê!? Está feito, riscado do mapa!
A ascensão pelo lado norte, tal como a fizemos é tormentosa, trabalhosa, obriga-nos a um grau de concentração inacreditável para não cometermos erros, as penduras iam tensas, acidentes durante a subida, vimos alguns... enfim... o prazer é todo em chegar lá acima e não no percurso. Curvas que nos obrigam a parar caso circulem viaturas em sentido contrário não são propriamente o sonho de um motociclista mas a chegada lá acima, compensa tudo!







Vendo bem... Se calhar até volto lá... um dia!

2010/11/01

Até ao Acipreste, Alcobaça [30 Out. – 1 Nov. 2010]

Por: Jorge Lami Leal

A noite anterior foi de temporal. Com a partida prevista para a manhã de Sábado, bem cedo, o tempo parecia antever uma viagem molhada. E foi. Quase. Entre pouca chuva, alguma chuva e chuva torrencial, lá fizemos os quilómetros que separam o nosso Algarve do Oeste, mais concretamente da pequena aldeia do Acipreste, mesmo aos pés de Alcobaça.

Na parte inicial da viagem Faro/ Beja, o tempo esteve razoável e chegámos ao local combinado para o pequeno-almoço sem problemas de maior, precisamente para encontrar a zona de partida de um rally de carros clássicos, bem no largo da confluência da rua Cap. João Francisco de Sousa e rua de Mértola, em Beja.

Prosseguimos viagem logo após umas (indescritíveis) empadas. O temporal encontrou-nos logo à saída de Beja, em direcção a Ferreira do Alentejo, acompanhando-nos sem piedade em quase todo o restante percurso, mas sem prejudicar quer o conforto quer, na essência, o nosso ânimo e – sobretudo – a vontade de usufruir da viagem. Cada quilómetro contou. Foi curioso já que apesar das condições meteorológicas adversas, especialmente o vento forte, a moto esteve à altura e permitiu até um ritmo muito mais elevado que é nosso hábito, pois tínhamos que chegar antes da hora do almoço…

O comportamento da moto foi exemplar. Depois dos pneus Metzeler que vieram de origem, seguiram-se os Interact da mesma marca, que foram piores que os anteriores. Decidi aceitar a sugestão de um profissional e trocar por outra marca: Bridgstone BT 23 GT. Em vez de tecer grandes elogios, vou apenas referir que já não quero outros para esta moto. Ficou muito mais agradável de conduzir, segura e permite agora ir um pouco mais além em termos dinâmicos e de transmissão de confiança.

Depois de um fim-de-semana caseiro e de muita conversa colocada em dia, fizemo-nos novamente à estrada, desta vez com o beneplácito do tempo, que nos brindou com uma viagem do mais agradável e sem sobressaltos que seria expectável, face às chuvas e vento forte que se sentia ainda pela manhã. Passámos por Alcobaça, continuando de seguida para Sul.

Viajar de moto é algo que só quem gosta e faz consegue perceber e dar valor. Não são as condições menos boas de piso ou meteorológicas que atrapalham ou tiram prazer de uma viagem, antes pelo contrário, são estas que as caracterizam e fazem ficar na memória, são os cambiantes e os pequenos nadas que contribuem para que um itinerário seja sempre diferente, ainda que já o tenhamos feito vezes sem conta. Não me esquecerei deste, como de todos os outros… andar de moto é isto, é no mínimo isto. O resto só quem anda me compreenderá!