2010/07/19

Morre lentamente quem não viaja...

Por: Rui Viegas Gago

Em época de férias ou, de preparação de férias, de viagens, passeios ou apenas de voltinhas pelo quintal acho que vale a pena ler...

Morre lentamente, por Pablo Neruda

Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

4 comentários:

Jorge Lami Leal disse...

Quando chegar desta minha "dose suave", vamos acertar a próxima... está quase!! ;-)

Rui V. Gago disse...

vamos de dose suave em dose suave...
a minha próxima dose suave está mais perto... a seguir... talvez 100 fronteiras!

Anónimo disse...

Não é bem literatura para as férias...
É bem mais sério do que isso.
Parabéns pela escolha do poema/reflexão.

Abraço,

Pedro Bastos

Sandra Lami Leal disse...

Um poema certeiro! Profundo, que nos toca, num ponto qualquer vai sempre tocar-nos, pois todos temos o nosso momento "deixa andar", "já vou", "amanhã começo", etc. Enfim, o nosso momento "agora não me apetece e amanhã é outro dia"

Eu...
... amanhã vou começar a fazer qualquer coisa que não começei hoje. Em dose suave!

Porque hoje estou de férias e não me apetece refletir!

;-)